Geriatria

Demência de Alzheimer

Doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência. Essa doença foi descrita pela primeira vez em 1906, pelo psiquiatra e patologista alemão Alois Alzheimer. 

É uma doença neurodegenerativa crônica que se manifesta lentamente e vai se agravando ao longo do tempo. 

O sintoma inicial mais comum é a perda de memória a curto prazo, com dificuldades em recordar eventos recentes.

Os primeiros sintomas são geralmente confundidos com o processo normal de envelhecimento ou manifestações de estresse.

À medida que a doença evolui, o quadro de sintomas inclui dificuldades na linguagem, desorientação, perder-se com facilidade, alterações de humor, perda de motivação, desinteresse por cuidar de si próprio, desinteresse por tarefas quotidianas e comportamento agressivo.

Em grande parte dos casos, a pessoa com Alzheimer afasta-se progressivamente da família e da sociedade. Gradualmente, o corpo vai perdendo o controle das funções corporais, o que acaba por levar à morte.

Embora a velocidade de progressão possa variar, geralmente a esperança de vida após o diagnóstico é de três a nove anos.

A doença de Alzheimer é a causa de 60–70% dos casos de demência.

Embora evolua de forma única em cada pessoa, muitas vezes, os primeiros sintomas da doença são confundidos com os processos normais de envelhecimento ou estresse. 

Quando se suspeita da demência, o paciente é submetido a uma série de testes cognitivos e radiológicos para confirmar o diagnóstico. Com o avançar da doença vão aparecendo novos sintomas, como confusão mental, irritabilidade e agressividade, alterações de humor, falhas na linguagem, perda de memória a longo prazo, e o paciente começa a desligar-se da realidade.

Antes de se tornar totalmente aparente, a doença de Alzheimer evolui ao longo de um período indeterminado de tempo e pode manter-se assintomática durante anos.

A evolução da doença pode ser dividida em quatro fases:

Pré-demência

Estes primeiros sintomas podem afetar algumas das mais complexas atividades diárias.

O mais perceptível déficit cognitivo na fase inicial é a perda de memória a curto prazo, ou seja, a dificuldade em recordar fatos aprendidos recentemente ou em memorizar nova informação. 

Entre outros possíveis sintomas dos estádios iniciais de Alzheimer estão também problemas súbitos, com as funções executivas da atenção, planejamento, flexibilidade, raciocínio abstrato ou problemas na memória semântica (memória dos significados e relações afetivas).

Durante este estágio pode também ser observada apatia, que é o mais persistente sintoma neuropsiquiátrico ao longo da evolução da doença. Também são comuns sintomas depressivos, irritabilidade e a diminuição da percepção das próprias dificuldades de memória.

Este estágio pré-clínico da doença tem também sido denominado déficit cognitivo ligeiro, embora ainda se debata se este termo corresponde a um estágio de diagnóstico distinto ou se identifica o primeiro estágio de Alzheimer. 

Estágio inicial

A progressiva degeneração da memória e da capacidade de aprendizagem características da doença permitem, a dado momento, que possa ser realizado um diagnóstico conclusivo de Alzheimer. 

Embora na generalidade dos casos os problemas de memória sejam o sintoma mais evidente, numa pequena percentagem de pessoas são mais proeminentes as dificuldades de linguagem, funções executivas, percepção (agnosia) ou execução de movimentos (apraxia).

A doença não afeta todas as capacidades de memória de igual forma. As memórias mais antigas da vida da pessoa (memória episódica), os fatos já aprendidos (memória semântica) e a memória implícita (a memória do corpo para realizar ações, como usar um garfo para comer) são menos afetadas pela doença em comparação com novos fatos ou memórias recentes. 

Os problemas na linguagem são caracterizados principalmente pela diminuição do vocabulário e pela diminuição na fluência do discurso, o que leva a um empobrecimento geral da linguagem escrita e oral.

No entanto, durante este estágio geralmente a pessoa com Alzheimer ainda é capaz de comunicar ideias básicas de forma adequada.

As dificuldades de coordenação e de planejamento (apraxia) podem se manifestar durante a realização de tarefas motoras finas, como ao escrever, desenhar ou vestir-se, embora sejam geralmente imperceptíveis. 

À medida que a doença progride, as pessoas com Alzheimer conseguem realizar muitas tarefas de forma autónoma, embora possam precisar de assistência ou supervisão para as atividades de maior exigência cognitiva. 

Estágio intermediário

 A determinado ponto, a progressiva degeneração cognitiva afeta a independência da pessoa, que se mostra incapaz de realizar a maior parte das atividades do dia a dia.

As dificuldades na linguagem tornam-se evidentes devido à incapacidade em se recordar de vocabulário, o que leva a substituições incorretas de palavras de forma frequente (parafasia). 

As capacidades de leitura e de escrita também são progressivamente perdidas.

À medida que a doença progride, diminui a coordenação nas sequências motoras mais complexas, aumentando o risco de quedas.

Durante esta fase agravam-se também os problemas com a memória, e a pessoa pode deixar de reconhecer familiares próximos.

Começam também a ser visíveis déficits na memória a longo prazo, que em estádios anteriores se mantinha intacta. 

Nesta fase, as alterações comportamentais e neuropsiquiátricas tornam-se mais prevalentes. As manifestações mais comuns são um estado geral de confusão e ausência, irritabilidade e episódios incontroláveis de manifestações emotivas, como choro, agressão involuntária ou resistência à prestação de cuidados de saúde. Cerca de 30% das pessoas com Alzheimer desenvolvem sintomas de delírio. As pessoas perdem também a consciência do processo e das limitações da sua própria doença (anosognosia). Pode também aparecer incontinência urinária. Estes sintomas geram estresse para os familiares e cuidadores, que pode ser diminuído inscrevendo a pessoa em apoio domiciliário ou lares de repouso. 

Estádio avançado (terminal)

Durante a última fase da doença, a pessoa está completamente dependente dos cuidadores. 

A linguagem é reduzida a frases simples ou até a palavras isoladas, levando eventualmente à perda completa da capacidade de se exprimir verbalmente.

Apesar da perda da linguagem verbal, muitas vezes as pessoas continuam a compreender e responder a sinais emocionais. 

Embora a agressividade ainda possa estar presente, a apatia extrema e o cansaço são sintomas muito mais comuns. 

Nesta fase, as pessoas com a doença eventualmente acabam por não conseguir realizar sem assistência até mesmo as tarefas mais simples. 

A massa muscular e a mobilidade degeneram-se ao ponto em que a pessoa não consegue sair da cama e perde a capacidade de alimentar a si própria. 

Alzheimer é uma doença terminal, em que a causa direta de morte não é a doença em si, mas geralmente um fator externo (como uma infeção por escaras ou pneumonia).

Fatores de risco

O tabagismo é um fator de risco significativo de Alzheimer.

Os marcadores sistémicos do sistema imune inato são também fatores de risco para o Alzheimer de aparecimento tardio.

Existem também evidências conjeturais de que a exposição à poluição do ar possa constituir um fator para o desenvolvimento de Alzheimer.

Mecanismo da doença

A doença de Alzheimer é caracterizada pela perda de neurônios e sinapses no córtex cerebral e em determinadas áreas subcorticais.

Esta perda provoca a atrofia das áreas afetadas, incluindo degeneração no lobo temporal, no lobo parietal e em partes do lobo frontal e do giro do cíngulo.

A degeneração ocorre também nos núcleos do tronco cerebral, como o cerúleo.

Tanto as placas amiloides como os novelos neurofibrilares são claramente observáveis ao microscópio no cérebro de pessoas com Alzheimer.               Ainda não se conhece de forma precisa como é que as alterações na produção e agregação dos peptídeos beta-amiloides dão origem à patologia de Alzheimer.

A hipótese amiloide geralmente aponta para a acumulação de peptídeos beta-amiloides como o evento central que desencadeia a degeneração de neurónios.

A acumulação de agregados de fibrilos, os quais se acredita serem a forma tóxica da proteína responsável pela interferência com a homeostase de íons de cálcio da célula, induz morte celular programada.

Também se sabe que o as placas de beta-amiloide se acumulam na mitocôndria das células de cérebros de Alzheimer, também inibindo determinadas funções enzimáticas e a utilização de glicose pelos neurônios.

Existem diversos processos inflamatórios e citocinas que também têm um papel na patologia da doença de Alzheimer. 

A inflamação é um marcador genérico de lesões no tecido em qualquer doença, e pode ser secundária às lesões no tecido em Alzheimer ou uma resposta imunitária.

Têm também sido descritas alterações na distribuição de diferentes fatores neurotróficos e na expressão dos seus receptores, como o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF). 

Diagnóstico

O diagnóstico da doença de Alzheimer é geralmente baseado na observação comportamental e no historial clínico da pessoa e dos respetivos familiares. É apoiado pela presença de características neurológicas e neuropsicológicas e pela exclusão de outras hipóteses.

A exclusão de outras patologias cerebrais ou outros subtipos de demência pode ser auxiliada por diversas técnicas de imagiologia médica, como a tomografia computadorizada (TAC), ressonância magnética (IRM), tomografia computorizada por emissão de fotão único (SPECT) ou tomografia por emissão de positrões (TEP).

Estas técnicas permitem ainda prever a evolução de estádios pródromos (déficit e cognitivo ligeiro) para a doença de Alzheimer. 

O estado da doença pode ser caracterizado em maior profundidade através da avaliação das funções intelectuais, entre as quais a avaliação da memória. Várias organizações médicas têm vindo a criar critérios de diagnóstico com o intuito de padronizar e facilitar o processo de diagnóstico. 

O diagnóstico pode ser confirmado com elevado grau de precisão através de um exame histológico ao tecido cerebral após a morte.

Tratamento

Não existe cura para a doença de Alzheimer. 

Existem diversos tratamentos que proporcionam alívio relativo dos sintomas, embora sejam de natureza paliativa.

Os tratamentos atuais podem ser divididos em farmacológicos, psicossociais e a nível de cuidados de saúde.

A esperança média de vida após o diagnóstico é de aproximadamente sete anos. O prognóstico de sobrevivência é menos favorável em homens do que em mulheres. 

A doença é a causa de morte subjacente em 70% dos casos.

A pneumonia e a desidratação são as mais frequentes causas de morte imediata.

As características da doença associadas a esta reduzida sobrevivência são o agravamento do déficit cognitivo, a diminuição das capacidades executoras, a ocorrência de quedas e transtornos neurológicos. 

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